Abortados
sobre as escórias de um solo infértil e domesticado, resvalamos do interno de
Maria, onde nos aprisionam a preceitos que raiaram antes mesmo da luz que
irradiou do próprio Messias, quando poisou avassaladoramente e converteu o
orbe. E inalávamos todo o pó do solo onde as nossas cabeças se apoiavam. E uma rajada
fazia levitar a poeira que nos inebriava, atirando-a contra os nossos olhos em
forma de tempestade. E, com os olhos ao rubro, vertia de nós o mais puro
cristal que inundava as nossas almas e glorificava todo o nosso ser. E inundava.
E, tomado de pura inveja, o céu encoberto de prata, em pranto se derramava,
aquietando a poeira e tornando tudo em barro, o qual é a nossa origem que, pelo
sopro do Criador, fez de nós carne. O barro, com o qual nos fundíamos agora
novamente. E, em plena ovação e em ritmo de ritual sacrificial, as árvores
contemplavam a aliança do ser pensante com a sua matéria-prima. E vivificavam,
com o pranto derramado pelos céus, o desalento de deus perante a sua obra. E as
nuvens densas se dissipavam e, ainda muito encoberto, via-se o tapete azul a
abrir alas no cinzento, para que pudesse ali passar o Astro-rei. E afagante Ele
surge, o Sol, que ameniza calorosamente toda a terra até aos horizontes, e
encandeia também todos que olhem diretamente para ele, pois é santo
imaculado e ninguém consegue fitá-lo. E secava também todo o pranto da terra
que os deuses inundaram. E nós e o barro, praticamente dissolvidos, secávamos
injustamente à luz do sol. E mesmo que tentássemos fugir, agora eramos um só, nós
e o barro. E, enfim, como a concubina de Ló, petrificados
ficamos. E somos as gárgulas reflexas e sem vida, sentinelas do mundo vedado
pelas muralhas, as leis do supremo sumo-sacerdote, eternos escravos de barro,
assolados incondicionalmente pelas tábuas da lei, que para sempre ditarão os
nossos destinos.
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