quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Ecdise

Se eu fosse embora:
Fugiria de algo?
Buscaria por algo?

Olho para o mar e choro.
Se por um lado me traz paz,
Imenso mar de ondas firmes,
Desagua em mim também a inveja.
São maremotos da minha alma,
A minha vida por isso choro.

E a dor que eu sinto é perigosa.
Nociva, desgastante
E eu me esgoto.

Há quem diga que está no escuro.
Eu nunca saí de lá. Acho que a luz é ficção,
Criação de homens sonhadores.
 E o breu encandeia também.
 É um abismo onde eu me encontro,
Caio vertiginosamente, sem parar.

Hoje, enquanto o sol nascia,
Ao meu lado, enquanto eu dormia
Ele afagou as minhas mágoas na minha cabeça.

sábado, 2 de agosto de 2014

Insularidade

Por vezes, esta segregação que faço quando o sol no Hemisfério Norte é quente como a brasa no braseiro e o céu cobiçoso plagia a Safira nos seus tons de anil faz-me pensar. Faz-me pensar na vida, no quão jovem se morre e tão pouco se vive. Vive-se pouco, preocupado com os dias vindouros e esquece-se que hoje também é dia, pois não há futuro sem presente. E cobre-se o rosto com a máscara, esconde-se do espelho atrás da capa e finge ser-se quem não se é, para se viver as aparências e fazer feliz a quem circunda, enclausurando quem se é, impregnando dentro de si próprio toda a imundícia, a falsidade e a descoragem, sangrando por dentro o sangue podre que deixa a carne e a alma em putrefação, chorando pelos cantos amarga e desalmadamente a cobardia na comodidade do presente por um futuro melhor.

Envolto na neblina densa e respirando o ar húmido e quente, eu sei que cavo a minha própria sepultura e preparo o meu próprio velório, empurrando a minha própria tumba, por uma alma cândida e imaculada nas promessas de glória eterna. Não é fácil transformar-me na muralha indestrutível e inabalável de tijolos maciços que almejo. Sonho com isso, mas não luto pelos meus sonhos. Enquanto isso, isolo-me aqui dentro nesta ilha que o mar separa dos meus sonhos, de onde o sol nasce por detrás todas as manhãs. Quiçá por medo das ondas, ou da imensidão do mar, não me atiro desbragadamente nas águas gélidas e incógnitas deste oceano e nado com coragem até aos meus sonhos. Um dia, quiçá.