Por vezes,
esta segregação que faço quando o sol no Hemisfério Norte é quente como a brasa
no braseiro e o céu cobiçoso plagia a Safira nos seus tons de anil faz-me
pensar. Faz-me pensar na vida, no quão jovem se morre e tão pouco se vive.
Vive-se pouco, preocupado com os dias vindouros e esquece-se que hoje também é
dia, pois não há futuro sem presente. E cobre-se o rosto com a máscara,
esconde-se do espelho atrás da capa e finge ser-se quem não se é, para se viver
as aparências e fazer feliz a quem circunda, enclausurando quem se é, impregnando
dentro de si próprio toda a imundícia, a falsidade e a descoragem, sangrando
por dentro o sangue podre que deixa a carne e a alma em putrefação, chorando
pelos cantos amarga e desalmadamente a cobardia na comodidade do presente por
um futuro melhor.
Envolto na
neblina densa e respirando o ar húmido e quente, eu sei que cavo a minha
própria sepultura e preparo o meu próprio velório, empurrando a minha própria tumba,
por uma alma cândida e imaculada nas promessas de glória eterna. Não é fácil transformar-me
na muralha indestrutível e inabalável de tijolos maciços que almejo. Sonho com
isso, mas não luto pelos meus sonhos. Enquanto isso, isolo-me aqui dentro nesta
ilha que o mar separa dos meus sonhos, de onde o sol nasce por detrás todas as
manhãs. Quiçá por medo das ondas, ou da imensidão do mar, não me atiro desbragadamente
nas águas gélidas e incógnitas deste oceano e nado com coragem até aos meus
sonhos. Um dia, quiçá.
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