segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Liber ( Monólogo do Desamor)



Em sincronia com as ondas que fazem vibrar-me o tímpano, o ilíaco move-se. E cada vértebra, da base para o topo, contorcem-se. A cabeça gira, de poente para nascente e as extremidades dos braços contornam-me o tronco até cobrirem o sol, dando sombra ao meu rosto. Sinto sobre a pele o vento, que nesta altura do ano, que no cume da montanha, faz ouriçar os pelos e faz bailar as vestes alvas, quase transparentes em contraluz com o sol, demarcando as formas do meu corpo para alguém que quiçá contempla ao longe.
Sou livre e as fitas, que envoltas no meu pescoço limitam-me a passada, estão frouxas, laças. É só o cetim suave que não enforca, nem asfixia. Sou livre e a viseira, que encobre-me e confina a visão, mostra-me que os olhos devem focar-se no horizonte. É só veludo, que não cega, nem obstrui. Sou livre e o espartilho, que aperta e comprime-me a cintura, não me impede de respirar. É só o couro a adelgaçar a silhueta e a suster a coluna. Sou livre e o seixo, que me fazem tropicar e tombar, guia-me no caminho. São brilhantes a ladrilhar o caminho até ao destino.

De olhos cerrados vejo o horizonte em flor e exalo o seu perfume exímio. Nada me prende nem pode deter. As lanças de ouro que trespassam-me os carpos, pingam o meu sangue nos meus lábios. Sangue que corre como rio pelos meus braços… Prossigo, rumo ao sonho. E nada coíbe nem obstrui a vontade da alma. Nem mesmo o amor, ou a acomodação. 

Sem comentários:

Enviar um comentário