terça-feira, 13 de outubro de 2015

Shibari

É deveras surreal a capacidade que tens de me prender sem cordas e dominares o meu corpo e sentimentos sem estares presente. Quando me tomas pelo colarinho e mostras que dominas qualquer parte do meu ser contigo, seja presente, virtualmente, ou somente quando és fruto da minha mente por pensar em ti constantemente, só me ocorre que não precisas de o fazer, porque há algum tempo que me rendi e sou teu cativo.
É puro prazer o que desencadeias sem algemas nem mordaça, quando me mostras que és tu quem manda. Eu me rendo, sem resistência, como se qualquer tortura se tornasse em ternura por contemplar o teu sorriso. Submeto-me ao que tu queres, porque o teu prazer faz-me sorrir como um miúdo, mesmo quando está tudo controlado e eu não tenho controlo nenhum sobre mim, nem sobre nada e está tudo nas tuas mãos.

São mais do que palavras, ou do que o toque. É dentro dos teus olhos onde eu vejo refletido os meus pulsos vermelhos acorrentados, e o suor inseguro a escorrer pelo meu pescoço, enquanto tento dizer pela mordaça “por favor, não vás”. Não precisas dizer-me. Nem precisas tocar-me. Eu sei que és tu sem o fazeres. Mas quando tocas… 

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Boy Toy



Para já não me tens como merecíamos ao menos tentar. E eu, por vezes na maioria dos momentos, sou inseguro e tenho medo que te canses de esperar que eu me desembarace dos meus grilhões tão complexos e apertados nos artelhos. Lucidamente me alentas e dizes “eu estou e estarei aqui, até que…”.
Para já não me tens como merecíamos ao menos tentar. E eu, por vezes, na maioria dos momentos, sou carente (que palavra difícil) e posso dar-te pouco de palpável enquanto a areia escorre entre os compromissos e quando vejo que já se passaram horas e os certos não ficaram azuis, os meus pensamentos mudam e acho que não merecíamos sequer tentar, afinal. Mas com três frases devolves-me o sorriso e eu sinto novamente que para já não me tens como merecíamos ao menos tentar.
Para já não me tens como merecíamos ao menos tentar. “Mas tenho-te” – por outras palavras me dizes tu, e é suficiente, por agora. Tens-me e desejas também tentar com os braços tão abertos quanto os meus. E isso para mim é suficiente, até que tudo seja mais simples para mim e, consequentemente para nós, quiçá.

sábado, 15 de agosto de 2015

Fantasmas numa Mesquita


Não sou perfeito, longe disso até... Queria ser perfeito e ter tudo o que desejo ao meu alcance, ser detentor de toda a sabedoria e de toda a lei, de todo o poder. Queria escolher as pessoas que eu tenho ao meu lado. Anjos, mães e arcanjos. Mães, sobretudo a minha mãe.  Ter o Arcanjo Miguel, tão perfeito e imaculado, a venerar-me e tão frágil sob os meus cuidados. Mas não sou. Mas não sei. Mas não tenho. 
Não sou perfeito, longe disso até... 

Eu tenho mil problemas... Mas quem não os tem, não é? Ninguém é perfeito, na verdade. E na verdade eu sou fraco para a quantidade de problemas que eu tenho. Nem se eu distribuísse um problema por pessoa eu seria perfeito. Porque há problemas que me transcendem, me ultrapassam. Sou fraco para tantos problemas. Tenho poucas forças para resolver tantas coisas. Não sou perfeito, longe disso até...

O que me resta são as minhas poucas forças para lutar pelas coisas que as minha poucas forças podem resolver. Não vou entrar em batalhas invencíveis, as quais antes de começar  sei que vou sair derrotado, pois há gigantes que eu posso aniquilar e há outros que não dependem de mim, porque a minha espada é de madeira e na minha funda só tenho uma pedra. Não sou perfeito, longe disso até...

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Garras e Transtornos Crônicos (até agora)


Acho que sou assim desde os seis, não sei bem. Nunca parei, mesmo quando sangrava ou a tinta que cobria deixava um sabor horrível. Nem quando levava uns tapas para não repetir. Nunca parei. Antes eu tinha flexibilidade e tinha vinte, agora eu tenho flexibilidade, mas tenho nojo, então só tenho dez. Nunca tive aquela coroa branca no topo delas, sempre tiveram esse tamanho assim, nunca foram mais do que isso. As vezes faço-o sem pensar, de forma compulsiva e descontrolada. Eu não sei se é algum medo, preocupação, ou até ansiedade, crônica até agora.  Sei que sou assim desde os seis, e que, aos vinte e quatro, tenho as pontas dos dedos deformadas, como se fossem almofadinhas. 

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Seis e Seis (Versos de uma Insónia para Compor uma Melodia)



Hoje eu não vou dormir,
Vou estar aqui antes do sol nascer.
Hoje pode até se avermelhar a esclera:
Vou privar o meu sono e sonhar acordado.

Hoje eu não vou dormir,
Vou até ver se há café para beber.
Hoje ninguém vai estar à minha espera:
Vou ver a lua se apagar sorrindo, aluado.

De tempo a tempo eu olho para a claraboia.
Estou à espera do clarão de alvorada.
Ouço uns barulhos estranhos, que paranoia!
Será uma vizinha que ainda está acordada?

Hoje eu tenho que ir à rua,
Vou à botica buscar o meu preparado.
Hoje a minha mãe faz aniversário, é verdade!
Vou pensar em algo bonito para poder lhe dizer.

Hoje eu tenho que ir à rua,
Vou com prazer, estou saindo com agrado.
Hoje, ser for à Mercês, não quero ver o abade!
Vou tentar ir cedo se for preciso para me tolher.

De tempo a tempo eu olho para a claraboia.
Estou à espera do clarão de alvorada.
Ouço uns barulhos estranhos, que paranoia!
Será a minha irmã que já está acordada?

(Eu acho que não vou conseguir…
Uaaaah, que sono.
Mas eu não vou dormir!
Tic-tac... Zzz…)

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Glaciem Larva

Existe algo que sempre petrifica o meu ser.
Algo que me transforma num glaciar…
Num glaciar de qualquer polo,
 Já tanto me faz onde é o meu norte.

 Há sempre o desejo de fundir,
 Desvanecer entre as águas gélidas
 Sob o calor do fogo
Dentro dos olhos de quem me ama.

 O eu? Tanto me faz!
 Se o espelho não reflete,
Tanto me faz o eu!

 Eu só quero a paz!
Seja pela dor do abandono,
Seja pela asfixia da alma,
Ou pelo silêncio dos sonhos.

Até tento aniquilar os meus sonhos
E bajular os preceitos de pedra.
Quase que hipocrisia.
Ai que vida! Ai que vida!

Mas estou congelado nos meus sonhos,
Por mais que tente derreter.
O egoísmo mais puro.
O mais difícil pesar.