sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Imo

Tingi outra vez as minhas veias de luto,
Contraí as entranhas e sustive o ar
Para não esboçar nenhuma expressão.

Agora as cores estão mais garridas
E a luz tão intensa que até ofusca.
Escondi a alma do mundo
E pintei um sorriso na cara.
Agora a carne não espelha nada
E o que sinto está no cofre.

Três chaves de ouro agora
São o que resta de mim:
Silêncio. Apatia. Ego.

Mas isso, eu não darei a ninguém.
Só a capa que guarnece,
 O sorriso pintado na cara,
 As cores garridas da paleta que pinta a pele,
E a luz intensa que até ofusca
É que darei de mim.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Innominatam


Eu já não sei o que quero.
Se quero. Se não quero.

Receio voar.
Desaferrolhar na areia.

Abrir a gaiola.
Largar as amarras.

Mas…

Eu já não sei o que quero.
Se quero. Se não quero.

Preciso voar.
Não olhar para trás.

Abrir a gaiola.
Arrotear o cosmos.

Mas…

Eu já não sei o que quero.
Se quero. Se não quero.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Lutum Paris



Abortados sobre as escórias de um solo infértil e domesticado, resvalamos do interno de Maria, onde nos aprisionam a preceitos que raiaram antes mesmo da luz que irradiou do próprio Messias, quando poisou avassaladoramente e converteu o orbe. E inalávamos todo o pó do solo onde as nossas cabeças se apoiavam. E uma rajada fazia levitar a poeira que nos inebriava, atirando-a contra os nossos olhos em forma de tempestade. E, com os olhos ao rubro, vertia de nós o mais puro cristal que inundava as nossas almas e glorificava todo o nosso ser. E inundava. E, tomado de pura inveja, o céu encoberto de prata, em pranto se derramava, aquietando a poeira e tornando tudo em barro, o qual é a nossa origem que, pelo sopro do Criador, fez de nós carne. O barro, com o qual nos fundíamos agora novamente. E, em plena ovação e em ritmo de ritual sacrificial, as árvores contemplavam a aliança do ser pensante com a sua matéria-prima. E vivificavam, com o pranto derramado pelos céus, o desalento de deus perante a sua obra. E as nuvens densas se dissipavam e, ainda muito encoberto, via-se o tapete azul a abrir alas no cinzento, para que pudesse ali passar o Astro-rei. E afagante Ele surge, o Sol, que ameniza calorosamente toda a terra até aos horizontes, e encandeia também todos que olhem diretamente para ele, pois é santo imaculado e ninguém consegue fitá-lo. E secava também todo o pranto da terra que os deuses inundaram. E nós e o barro, praticamente dissolvidos, secávamos injustamente à luz do sol. E mesmo que tentássemos fugir, agora eramos um só, nós e o barro. E, enfim, como a concubina de Ló, petrificados ficamos. E somos as gárgulas reflexas e sem vida, sentinelas do mundo vedado pelas muralhas, as leis do supremo sumo-sacerdote, eternos escravos de barro, assolados incondicionalmente pelas tábuas da lei, que para sempre ditarão os nossos destinos.

sábado, 14 de setembro de 2013

A viúva de Prius Octávius



Delicadamente acaricio a face com as pontas das minhas garras que cintilam de breu na minha mão esquerda. Num suspiro nostálgico relaxo os lábios carnudos, tingidos num tom escarlate e molhados de whisky. Ao mesmo tempo, os cílios pesados fazem cair as pálpebras esfumadas e me vendam a visão e encobrem-me os gázeos, deixando somente a imaginação  de olhos abertos para a saudosa dor de causa a perda da tua vida, a qual ontem velei e chorei sobre a campa. As lágrimas tingidas de preto correm pelo meu rosto pálido, caiado pelo pó-de-arroz, criando um rio de foz as pérolas que sufocam o meu pescoço e ornamentam o meu regaço. O vento traz nesse instante ao coreto o perfume fresco do orvalho madrugador no jardim. E ao suspirar, brota em mim a paz e um sentimento que sussurra que tudo um dia passa, exceto as memórias e a saudade. Estas estarão para sempre guardadas e imortais dentro de nós. E ao suspirar, esboço um sorriso. Vem-me a memória do teu olhar cinzento e inofensivo, com pupilas dilatadas, os teus lábios sempre molhados do whisky que também molhou os meus, e o teu pescoço, a tela onde magistralmente rosas tão graciosas foram pintadas, tal como todo o teu tronco por deus esculpido e pintado, sempre despido, derramado na cadeira de baloiço, aqui, ao meu lado nesse mesmo coreto, enquanto em silêncio namorávamos com olhares e sem toque ao som de Piaf.
Como o fogo a incidir sobre o gelo, derretendo tudo e fazendo escorrer, fazendo frágil a pedra consistente, transformando em água, impossível de agarrar nas mãos, nesse mesmo instante o sol incandescente nasce por detrás das montanhas e desperta-me do meu sonho hipnótico. Abro os meus olhos, acendo o último cigarro que está sobre a mesa e desfruto prazerosamente da solidão e da nova vida que agora viverei. 

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Non Paenitenda


Tudo será igual. O cristo de braços extensos na outra margem velando por “Tago, de antiga estirpe e de grande beleza”. A calçada monocromática que concebe encruzilhadas em breu, geometricamente perfeitas, onde perfeitamente no centro se coloca a figura equestre relinchante petrificada, montado pelo destemido D. José de bronze. O arco de marfim, a rua de ouro e a rua de prata. As fontes e os deuses que inspiraram Bocage, de onde D. Pedro (sim, D. Pedro, e não Maximiliano do México) também petrificado, fita com brio os feitos a partir deste porto seguro do povo de Olisipo. Os carros a correrem pela Liberdade rodeando o imponente felino ao lado do grande criador (ou melhor, recriador) de tudo que por ali abaixo se vê. Tudo será igual.

Tudo será igual, menos a vida e a efemeridade que agora ela detém. Menos as memórias vividas e o pesar pelas fatalidades outrora abortadas. Menos as lágrimas vertidas pelo que passou (sem nenhuma gota de arrependimento) e a certeza de que não há remorso pelos feitos, quer vitoriosos ou esmorecedores. O que passou, passou. Não adianta girar a ampulheta, pois o tempo não volta atrás. Tudo será igual, menos a vontade de crescer, desbravar, evoluir e vencer, sem ilusões ou mundos paralelos, repletos de escuridão e carcoma, onde os espelhos e os poucos raios de luz subterrâneos iludem, onde o som do desespero, da carência e do desamor estão isolados e abafados pelo hino hipnótico em voz de sereias que nos cantam “dancem, até o mundo acabar. Nós vamos morrer jovens”. Ali, no subterrâneo ninguém os pode ouvir. Ali em baixo, eles já estão soterrados, nem pensam no nascer do sol, a esperança não é contemplada. “Dancem até a morte efémera” cantam-lhes as sereias. Tudo será igual, menos eu, que já não faço parte. Menos eu, que agora depois de muito tempo sufocado e quase sem esperança, como bom soldado, orgulhoso dos meus feitos por ter combatido com bravura, apoiei-me no bordão e por forças próprias me retirei para ladrilhar novamente o meu curso. Tudo será igual, menos o foco na imortalidade, a querença de pisar com intenção qualquer via que eu cruzar, marcando e deixando indiferente tudo e todos por quem eu passar. A exceção disso, tudo será igual.  

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Le Marionnettiste et L'Oiseau Indomptable


Para o caso de sobrepujarmos a trincheira vertiginosa, a caverna abismática na qual estamos, quero que tu saibas que eu não enlaço esta discórdia… E mais, já dizia o ancião: “quando um não quer, dois não brigam”. Eu não quero, não vou e não estou a brigar. Se um dia isso tudo passar, como a noite amanhece e nasce um novo dia e como as estações mudam e as nuvens condensam, aspergindo a terra fértil e desabrochando tudo em flor, eu estarei à espera que todo esse rancor, essa dor e essa tristeza passem. Eu estarei a espera da rosa sem espinhos no cano da arma com que me apontas. Esperarei também que embainhes novamente a tua espada, com a qual me feres, repleta de palavras torpes, cessando por fim esta contenda inútil que travas sozinho. Eu tenho todo o tempo do mundo. Quando tudo isso começou, eu só demandava em busca do além do arco-íris, daquilo que ambos almejávamos, a felicidade. Distinto do que dizes, há três certezas nesta vida, e não só uma. A primeira, é a que nascemos um dia, um momento de regozijo. A segunda, é a que um dia também vamos morrer, seja tarde ou cedo. E a terceira, é a que passamos por esta vida, toda ela, em busca da felicidade. E era só isso o que eu fazia: buscava (e buscarei até ao fim) a felicidade. Desde o início, quando as nossas teias se entrelaçaram e fizeram de nós felizes, até ao dia em que tudo se findou e puseste o dedo inconformado e rancoroso no gatilho. Quer tenha sido efémera esta felicidade, fomos felizes, é facto. E, eternamente, eu guardarei cá dentro todas essas memórias, podes levar contigo isso como verdade. Tudo se findou para que fossemos mais felizes. Pois é a felicidade o objetivo, sempre. É egoísmo meu dizer que o fiz só por ti, para que fosses feliz. Eu fiz por mim também, tens toda a razão de me acusar. Cotudo, sabe que tudo o que eu fiz, foi feito por amor. Isso jamais podes sequer duvidar ou negar! Por amor-próprio e por amar-te também. Eu abri a gaiola para que possas novamente voar, livremente, pois agora eu entendo que uma ave selvagem nunca poderá ser domesticada, é indomável e nasceu para ser livre, no meio da floresta, para voar sem rumo, nem compromissos. Contudo não te deixes capturar, conselho de quem te ama. É impossível ter as duas coisas: ou és selvagem e sem dono, ou és domado e tens uma gaiola, que te restringe a fazer coisas. Não queiras, nem penses que será possível ter tudo ao mesmo tempo. É puro egoísmo e falta de respeito por quem se entrega para ti pensar que podes ter as duas coisas. E quanto a mim... Bem, quanto a mim, agora não viverei mais na minha ilusão, no meu castelo de areia, o qual eu próprio construí, de que eu posso mudar a natureza das coisas: uma águia jamais será uma galinha. É assim a natureza e eu tenho que me conformar. Eu não sou um deus com domínios sobrenaturais. E eu vou recomeçar, desiludir-me e procurar novamente a felicidade. Entende que eu simplesmente tentei ser um titereiro de uma marioneta com vida e vontades próprias, indomável. Só que eu nem sequer sei manejar uma marioneta e ainda por cima, a marioneta que escolhi tinha vontade própria! Embaracei e embaracei-me nos fios, desculpa se te fiz sofrer. Todavia, antes que seja tarde e que nada resolva o emaranhado que estou a fazer, o melhor é parar, para que eu não torne inútil e inutilizável a marioneta. Sempre aprendi que quando não sabemos utilizar uma coisa, devemos deixar para os peritos fazerem. Foi o mais sensato parar para eu não me frustar tentando dominar um brinquedo com vontade própria. Agora vai, sê feliz! É o que eu verdadeiramente desejo, que sejas feliz. Eu estarei aqui à espera que todo esse rancor, essa dor e essa tristeza passem. Eu estarei a espera da rosa sem espinhos no cano da arma com que me acusas.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Litteris Sanctis Lutum


Do alto fito-os lá em baixo. Não que eu seja melhor do que eles, mas agora vejo tudo de um degrau distinto do que outrora via, onde a lua cheia e descoberta embate sobre a ardósia oleada e faz ricochete, fazendo cintilar as veredas, trazendo a ventura, a fé e tempos de bonança. Olho para as minhas botas que antes foram novas e vejo quão gastas elas estão, e lamacentas. Mas os meus pés estão intactos, Ave!
 E do alto fito-os lá em baixo, no pântano lodacento, em devassidões efémeras com as ninfas de gelo que o aquecimento prazeroso do desejo lascivo derreterá, indubitavelmente. Ou o sol que nascerá ao amanhecer, e que encandeará os olhos dos sonhadores sem rumo. Mais cedo ou mais tarde será assim e eles nem sequer fazem ideia, pobres, frágeis e inócuos santos de barro, sem vida, sem sonhos, sem rumo.
Não é dor, nem pesar… É como se sentisse o quanto é descartável. É como se soubesse que não passam de areias esgotadas por uma ampulheta que, num piscar de olhos, enredam a essência e não deixam evocar na memória que não há estipêndio de valor real para quem vive a estroinice por preferência. Deixam a razão de parte e evocam prazeres dionisíacos. Estão abandonados, deixados como folhas de outono à sorte e vivem, sem rumo nem direção, à espera de uma rajada de vento que os transporte, mesmo sem bússola, nem astrolábio que norteiem um caminho… “que seja onde o vento levar”, é o lema deles. Eu sei, eu já fui assim.
E não pretendo descer, nem vou cair novamente. Estou bem firme aqui, com alvo traçado e pretensões, de tornar reais os meus sonhos. O nevoeiro começa a inabilitar a minha visão e eu já não os fito lá em baixo, infelizmente. O meu coração aperta, mas sei que tenho um caminho a seguir, e sei que só o farei sozinho. Não estou apto a ajudar ninguém, nem forças para mim mesmo tinha outrora… Ora, não se trata de egoísmo. Basta a cada um os seus próprios males, essa que é essa! Até porque cada qual tem de querer sair do pântano e prosseguir os seus verdadeiros sonhos…

E com um suspiro decido continuar o meu caminho, rumo ao castelo dos sonhos. Pois eu sonho alto, e afirmo: eu sei que eu serei imortal, nem que seja para aqueles que me são mais próximos, vou fazer a diferença, pois eu sei o quanto especial eu sou. 

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Magnum Somnianti Puer



Promessas francas sobre um palácio em construção são certezas ditas na mais pura das emoções. Elas cobrem a alma com a brisa primaveril e espelham-na, num sorriso cintilante. É como se brotasse em mim, como uma flor, a afeição, como se almejasse fundir dois em um, para sempre. Sim, para sempre, sem volta, eternamente, enquanto durar. São sentimentalidades que me conturbam nesta fascinação desmedida provocada pela carência.
Na verdade, o meu escudo deveria ser impenetrável. De muito pesar já padeci por me entregar assim, por inteiro. Por vezes, sem solução, a não ser a morte, o termo sem volta. Mas não é assim o meu escudo (se é que eu o tenho). Eu entrego-me, mesmo assim. E vivo cada momento. Sou muito feliz, porque tudo o que vivo é intenso, porque voo alto. Contudo, sei que sofrerei muito mais, se porventura me faltarem as asas, ao saltar do mais alto cume. Mas eu entrego-me. É como sou. Já sofri muito com isso, por me entregar, por confiar em alguém, acredita. Mas, sei que sou mais feliz também, porque vivo assim, intensamente. Isso não cinge os meus sonhos, as minhas quimeras, do “era uma vez”, findado no “viveram felizes para sempre”. Sei que o palácio em construção um dia estará pronto, com torres inabaláveis, abóbodas cravadas com pedras preciosas, e de cúpulas bordadas com os mais belos vitrais alguma vez imaginados.
Mesmo que um dia o D. Casmurro apareça com o escudo mais forte do mundo, perdido no labirinto, dentro de si, eu farei tudo o que puder para o conquistar, se um ponto luminoso vir sobre o seu ombro esquerdo. Pois nada me assusta, nem o mais complexo labirinto. A beleza dos labirintos é saber que, apesar de todas as peripécias e dificuldades, existe neles um caminho certo. E sabe bem batalhar para o encontrar. O galardão no fim é superior, quando desbravando florestas densas, revestidos com a armadura de pureza e simplicidade nas espadas de madeira, encontramos a recompensa. E quiçá, no fim, vivemos felizes para sempre, eternamente. Mesmo que o próprio eterno tenha um fim, «que seja eterno enquanto dure».

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Quaero Enim Satisfactio

Caminhava, galopante e o crepúsculo serôdio caiava o céu de breu enquanto entardecia o dia. Caíam flocos de neve que cabriolavam ao ritmo do vento de oriente e de alvo tingiam os pinheiros eternos e, no solo, as quatro pegadas dele se estampavam, deixando-o vulnerável a predadores de presas frágeis. Ansiava saciar a própria sede, serenamente, no leito de água tépida da qual o frio não se tinha ainda apoderado.
A música do bosque atordoava os seus sentidos e vestia-o de medo. Enquanto satisfazia a sua sede, mirando o seu reflexo no espelho de água, secretamente, aflorava em si uma paz amedrontada pela incerteza desmedida de olhos ávidos dos predadores que, por ali, decerto, estavam prontos para cravar os caninos afiados no seu corpo indefeso, cujas veias pulsantes bombeavam o sangue que mancharia pecaminosamente o manto alvo de neve em tons de escarlate.
No fundo, era premonição genuína o que lhe cingia os pensamentos ao temor: um uivar, não muito remoto, fez calar a percussão dos galhos secos e dos cristais de geada que com o vento soavam. Pasmado ficou, tentando compreender de onde provinha o som estridente que perfurava o tímpano. Temia que o seu fim chegasse e estava certo, no fundo.
Do meio da névoa, de caminhar robusto e imponente e olhar flamejante, surge o predador, que, num outro uivo, qual grito de ataque, cheio de velocidade rasga o vento numa passada com alvo traçado – Ele. A passada feroz do predador, que quebrava os galhos secos semeados à sorte no chão, despertou-o da hipnose que o tinha cristalizado como o gelo ali, despoletando uma corrida desenfreada rumo ao incerto, na tentativa de escapar ao termo a que fora destinado.
E corriam, como se no fim o eterno os esperasse, na esperança de honra, vitória. A neve, a cada pegada deles, erguia-se em pranto aos firmamentos, rogando pelo melhor para ambos, somente. Muito correram, até que ele viu que não valia mais a pena, pois nem tudo vale, e rendeu-se por completo. Desistiu de correr, abrandou e entregou-se. Quiçá esperava por um ato de misericórdia, compaixão. Só que nada... Deveras é o ciclo e nada há a fazer.
O predador cravou-lhe os caninos no colo e, como espinhos de rosa em mão de donzela, perfurou-lhe a carne, profundamente. Sentia o ofegar do predador no seu regaço. E de rúbeo o chão branco de neve e o lago espelhado se pintaram. Ele, enquanto isso, pensava na primavera a florescer, que nunca mais veria, e no canto dos pássaros, que nunca mais ouviria, e as lágrimas vertiam dos seus olhos. Serenamente, os sentidos cessavam, de dor não padecia e de paz a sua áurea cintilava, pois nobre foi o seu desfecho. Afinal de contas, é esse o ciclo. Todos procuram a própria satisfação. E ele, nobre e delicada presa, correu o risco por satisfação e se findou para satisfazer o pobre e imponente predador. No fundo, é esse o ciclo.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

A Gnose das Raízes


Alvitrada está a flecha.
Tenho metas,
Tenho anseios,
E pretensões.
Pois nada eu fiz (nem faço) em vão.

Mas as raízes me oprimem.
Esgalham-me as plumas,
Amordaçam-me a alma,
Vendam-me os gázeos.
E de oceano me cingem, longe das luzes.

Amparo, eu sei, bem…
Digo até que é amor.
Mas constrange, inebria
Como a névoa baixa ao alvorecer.
E me agrilhoam no orbe que não me incumbe.

Até quando será assim?
Escoar-se-á toda a areia da ampulheta,
E nada deveras fui?
E agora?
E depois?

Agrilhoaram-me ao reflexo no espelho
De devaneios projetados em mim.
Não  alcançam que sou um comum mortal
Nesta humilde forma, enclausurado aqui…
E sei que tenho muito para compor, perto das luzes, e vou. 

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Lisbon revisited, 2013

São dez.
São dias.
São noites.
São-lhe momentos, 
Somente.

São de álcool.
São de éter.
São de pecado.
São-lhe drogas:
Simples cocaína.

São loucos.
São amigos.
São sonhadores.
São sonhos,
Sobre a vida.

São espelhos.
São luzes.
São sorrisos.
São cumplicidades,
Sinceridade no olhar.

São dez dias.
São amigos sonhadores.
São espelhos e luzes.
São isso tudo,
Sempre em Lisboa.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

A Alquimia do Efémero


Porque tudo tem um fim,
Porque nada é eterno
Neste mundo, suponho,
O eterno é intragável.

Do instinto brota
(O prazer)
É tudo o que desejamos,
(O prazer)
Seja carnal, místico, espiritual,
(O prazer)

Porque sou assim,
Porque sou homem,
Sou carne, sou espírito.
Sou físico, sou metafísico.

Deveras não me esquivo
(Do prazer)
Fui concebido e criado
(No prazer)
Vivo pela carne e pelo espírito
(Para ter prazer)

O sumo criador
A perfeita criação
Almejam prazer,
Eterno ou efémero.

sábado, 4 de maio de 2013

Nascido para...

http://www.tumblr.com/tagged/sexy%20hipster%20boy

É uma constante dúvida.
É um constante temor.
Ora vivo para estar aqui.
Ora almejo estar por lá,
Um dia.

E enquanto isso a areia escorre.
E pela ampulheta o tempo escoa.
Piscamos os olhos e o verão já passou.
Piscamos os olhos e a vida já se foi,
Num só dia.

Nem nada eu fui.
Nem nada eu fiz.
Procuro pelo alvo por aqui.
Procuro alcançar o alvo de lá,
Quem sabe um dia.

A verdade é uma dúvida que paira.
A vida passa, enquanto isso, por enquanto.
De branco o topo começa a pintar-se.
De olhos fechados miro além-mundo,
Que (quiçá) um dia será meu.